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ORÁCULO DO SENHOR - Parte II


ORÁCULO DO SENHOR (Jr 31, 16-22)

Parte 2


Escutei os gemidos de Efraim:

Tu me corrigiste, eu fui corrigido,

Como novilho indômito,

faze-me voltar e voltarei,

porque Tu és o Senhor, meu Deus.

Porque depois de me afastar, me arrependi,

Depois que compreendi, bati no peito.

Estava cheio de vergonha e enrubescia;

Sim, trazia sobre mim o opróbio de minha juventude! (vv. 18-19).


Nosso Deus não é um Deus insensível aos nossos sofrimentos. Desde que Ele se revela aos nossos primeiros pais na fé, Ele já se revela como um Deus que escuta os sofrimentos do seu povo: Eu vi, eu vi a aflição de meu povo que está no Egito, e ouvi os seus clamores por causa de seus opressores. Sim, eu conheço seus sofrimentos e desci para livrá-lo da mão dos egípcios e para fazê-lo subir do Egito para uma terra fértil e espaçosa, uma terra que mana leite e mel (Ex 3,7-8).


Assim como Ele ouviu e atendeu aos clamores de Israel, também está pronto para atender aos nossos gemidos. Ele mesmo nos diz: Invoca-me no dia da angústia, eu te livrarei, e tu me glorificarás (Sl 50,15).


Davi, a quem foi atribuído os Salmos, assim se colocava diante do Senhor nas suas aflições: De tarde e de manhã e ao meio dia lamentarei; e clamarei, e Ele ouvirá a minha voz (Sl 55,17). A palavra hebraica aqui para clamar é hamah, que tem a conotação de um murmurar/gemer alto.

Na angústia, Davi diz em outro versículo, invoquei ao SENHOR, e clamei ao meu Deus; desde o Seu templo ouviu a minha voz, aos Seus ouvidos chegou o meu clamor perante a sua face (Sl 18,7). Aqui a palavra para o clamor é shava, é um grito mais agudo por ajuda, como vemos, também, no Salmo 34: Os olhos do Senhor voltam-se para os justos e os seus ouvidos estão atentos ao seu grito de socorro (v.16).


Isso pode ser verdadeiro para eu e para você também. Hoje. Agora. Nós sabemos pela nossa experiência familiar que o coração de um pai verdadeiro ouve o clamor de seus filhos, e que os filhos naturalmente clamam por ele. Porque sois filhos, Paulo nos ensina, Deus enviou aos vossos corações o Espírito de seu Filho, que clama: Aba, Pai! (Gl 4,6).


Um grito angustiante, é a raiz do significado da palavra tsa’aq,u sada no Salmo 34: Os justos clamam, e o SENHOR os ouve, e os livra de todas as suas angústias (v.18) É um lamento contínuo e estridente comunicado pela palavra rinnah, que Davi escolheu para implorar em voz alta: Ouve, ó Deus, o meu clamor (Sl 61,2).


Perto está o SENHOR de todos os que o invocam, de todos os que o invocam em verdade. (Sl 145,18). Todos nós que aqui estamos, podemos testemunhar de que um dia, diante de alguma necessidade ou sofrimento, vimos essa palavra se realizarem em nossas vidas.


Para compreendermos bem o sentido do versículo Tu me corrigiste, eu fui corrigido recorramos ao clássico texto da carta aos Hebreus 12,5-15 que como nenhum outro abordou o tema da correção divina. Abra seu coração e medite nessa passagem: Meu filho, não despreze a disciplina do Senhor, nem se magoe com a sua repreensão, pois o Senhor disciplina a quem ama, e castiga todo aquele a quem aceita como filho". Suportem as dificuldades, recebendo-as como disciplina, Deus os trata como filhos. Pois, qual o filho que não é disciplinado por seu pai? Se vocês não são disciplinados, e a disciplina é para todos os filhos, então vocês não são filhos legítimos, mas sim ilegítimos. Além disso, tínhamos pais humanos que nos disciplinavam, e nós os respeitávamos. Quanto mais devemos submeter-nos ao Pai dos espíritos, para assim vivermos! Nossos pais nos disciplinavam por curto período, segundo lhes parecia melhor, mas Deus nos disciplina para o nosso bem, para que participemos da sua santidade. Nenhuma disciplina parece ser motivo de alegria no momento, mas sim de tristeza. Mais tarde, porém, produz fruto de justiça e paz para aqueles que por ela foram exercitados. Portanto, fortaleçam as mãos enfraquecidas e os joelhos vacilantes. "Façam caminhos retos para os seus pés", para que o manco não se desvie, mas antes seja curado. Esforcem-se para viver em paz com todos e para serem santos; sem santidade ninguém verá o Senhor. Cuidem que ninguém se exclua da graça de Deus. Que nenhuma raiz de amargura brote e cause perturbação, contaminando a muitos.



A correção nem sempre é - ou nunca é - agradável. Porém, o pai que algum dia a adotou, tomou essa atitude porque amava o filho e se importava com ele. Andamos por caminhos errados, tomamos decisões ilícitas, flertamos com o pecado e nos comportamos de uma forma que não agrada a Deus. Ora, é lógico que Ele não ficaria de braços cruzados vendo tudo isso acontecer. Então, Ele nos corrige e nos disciplina, para que possamos voltar ao caminho certo.

Você já foi repreendido por Deus alguma vez? Não é nada agradável, não é mesmo? Mas depois que passou vimos o quanto foi importante para o nosso amadurecimento. O Senhor faz isso porque nos ama! Imagine se Ele nos deixasse sem correção? Onde estaríamos hoje? Por isso, toda vez que você for repreendido, glorifique o Senhor, porque é sinal de que Ele te ama muito!

Eu não sei quanto a você, mas eu lembro bem das vezes que fui corrigido por meu pai. Entre tantas, eu lembro da que aconteceu num sábado à noite quando bati o pé dizendo que não iria para a Missa. Acabei, sem pensar muito, falando uma palavra nada respeitosa; foi quando vi o cinturão do meu pai sair do cós da sua calça parecendo o chicote do Indiana Jones. Aquele dia eu participei da Santa Missa com o corpo todo ardendo. Já pensou se o meu pai não tivesse me corrigido? Quem sabe eu, hoje, nem seria padre.


Achamos que sabemos alguma coisa, quando na verdade não sabemos nada. Ele é quem sabe! Então, antes de reclamarmos, lembremo-nos do que a Palavra diz: Meu filho, não despreze a disciplina do Senhor nem se magoe com a sua repreensão, pois o Senhor disciplina a quem ama, assim como o pai faz ao filho de quem deseja o bem (Pr 3,11-12).

A correção dói, muitas vezes nos pega de surpresa e não tem anestesia, porque Deus sabe que só assim cresceremos de verdade. Vida cristã não é um mar de rosas ou um “Spa” como muitos pensam. Vida cristã significa carregar a cruz e se pendurar nela diariamente, lutando contra a nossa natureza carnal, orgulhosa, egoísta, invejosa, amante deste mundo e do pecado... Cruz e Cristianismo são sinônimos.


Mesmo que a correção de Deus pareça ser ruim no momento, devemos crer que Ele não fará nada que não seja bom para nós. A correção do Pai deve ser motivo de alegria, porque se Ele não nos disciplinasse, o Seu amor não seria perfeito, pois amar também significa cuidar, proteger, querer o bem e não satisfazer todas as nossas vontades.


Como é feliz o homem a quem Deus corrige; portanto, não despreze a disciplina do Todo-poderoso. Pois ele fere, mas dela vem tratar; ele machuca, mas suas mãos também curam (Jó 5,17-18).


Nos debrucemos agora sobre o arrependimento, seu sentido e a sua importância na nossa vida cristã. Porque depois de me afastar, me arrependi, depois que compreendi, bati no peito

Você já ouviu falar de alguém que queimou alguma parte do corpo, e seus nervos ficaram tão danificados que já não sentiam mais nada na parte queimada? Isso é o que o pecado faz com a nossa consciência. O pecado pode endurecer o nosso coração a tal ponto que perdemos a nossa sensibilidade sobre o que é certo ou errado. São Paulo quando escreve a Timóteo fala de homens que cederam tanto ao pecado e tiveram suas consciências cauterizadas como em um ferro quente (1Tm 4,2). Um ferro quente cauteriza a carne, deixando-a cicatrizada e insensível. Muitos têm a consciência anestesiada que os impedem de sentirem-se culpados ou avergonhados quando erram.


Arrepender-se quer dizer não querer de maneira nenhuma continuar com a alma manchada pelo pecado, sentir uma dor profunda por ter traído a bondade de Deus, ter ofendido e entristecido a Deus, que nos ama tanto. Na nossa família nós temos um bom exemplo do que é o arrependimento, quando deixamos nossos pais tristes e ofendidos. Logo vem aquela dor, aquela vergonha e, ao mesmo tempo, a certeza de que eles vão nos perdoar, se pedirmos desculpas, porque sabemos que eles nos amam muito. Com Deus também acontece assim. Com uma diferença: o arrependimento dos nossos pecados nos abre novamente as portas do Paraíso, nos devolve a amizade com nosso Deus, que morreu na Cruz para nos salvar.



É preciso, porém, que o arrependimento seja acompanhado pelo bom propósito. O que é o propósito? É a vontade firme e sincera de não mais cometer aquele pecado. Se tivermos a contrição perfeita e o firme propósito de não mais pecar, devemos esperar com toda confiança o perdão de Deus. Ele é infinitamente misericordioso, chegando até a enviar seu Filho, o Verbo Encarnado, Jesus Cristo, para morrer pagando nossos pecados.


Peçamos que o Espirito Santo nos conceda a graça do verdadeiro arrependimento. Ele pode “descauterizar” toda e qualquer consciência anestesiada pelo pecado. Tem misericórdia de mim, ó Deus, por teu amor; por tua grande compaixão apaga as minhas transgressões. Lava-me de toda a minha culpa e purifica-me do meu pecado. Pois eu mesmo reconheço as minhas transgressões, e o meu pecado sempre me persegue. Contra ti, só contra ti, pequei e fiz o que tu reprovas, de modo que justa é a tua sentença e tens razão em condenar-me. (Sl 51,1-4).


Pe. Gilson Sobreiro, pjc

Fundador da Fraternidade O Caminho



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