Em um momento muito difícil da minha vida, escutando uma palestra do Professor Leandro Karnal, me deparei com esse questionamento: Onde você quer estar quando essa crise passar? Parecia que Deus estava falando comigo pela boca de um intelectual ateu. Era o próprio Deus me perguntando: Onde você quer estar quando tudo isso passar? Claro que me dei conta que na própria pergunta já tinha uma certeza (ou uma promessa): a crise vai passar!
Crise é algo inerente à vida. Faz parte do viver, entrar e sair da crise. A palavra vem do grego κρίσις (Krisis), que significa separação, distinção, decisão, escolha, discernimento, disputa, resolução, juízo, sentença. E pode ser de diferentes tipos: crises físicas (respiratória, abstinência), psicológica/emocional (depressiva, choro, pânico, medo, etc.), espiritual/vocacional, existencial, financeira, etc...
Não existe um só ser humano que não passe por algum tipo de crise ao longo de sua vida. Todos passamos! Justos pecadores!
Mas podemos dizer que a crise tem algumas características:
TEMPORAL: Toda crise passa, ou seja, ela dura um tempo. Está sujeita ao tempo, por isso, cedo ou tarde termina.
SÍSMICA: Como o chão desse País, a crise nos faz mover, nos faz tremer, nos coloca em movimento, nos faz sair do lugar. A crise nos tira de nossas zonas de conforto, da estabilidade, nos põe instáveis. Põe em dúvida nossas certezas para fortalecê-las ou desmoroná-las. É no meio do terremoto que descobrimos o que realmente é firme e seguro.
REVELADORA: Como indica a etimologia, a crise é distinção, separação, discernimento. Por isso, uma de suas características é nos libertar de nossas máscaras, desabrigar nossas mentiras. Revela a nua e crua verdade de nós mesmos. Nos desperta da ilusão de nos acharmos deuses, “onipotentes” - achando que podemos tudo, “oniscientes” - Achando que sabemos tudo; “onipresentes” – pensando que nossa presença é imprescindível para a sobrevivência de tudo e todos ao nosso redor. A crise revela a verdade que já nos dizia o Eclesiastes: “Vaidade das vaidades, tudo é vaidade” (Ecle 1,2).
PURIFICADORA: Do termo grego “crisis”, vem a palavra “crivo” (peneira). Depois de descoberta a verdade, começa a etapa purificadora. A crise tem o poder de nos purificar, de tirar de nós os excessos revelados por ela mesma. A crise nos humilha, nos faz passar pelo crivo, pela peneira, nos mói, para que passe somente o que é pó, somente o que é verdadeiro, essencial, humano.
OPORTUNA: A crise então se constitui um momento oportuno, onde é possível, discernir, decidir, questionar-se, descobrir-se. É tempo de fortalecer o que é bom e correto, corrigir o que está mal, mudar o que precisa ser mudado, desprender-se do que não é essencial.
Voltemos à pergunta inicial: Onde você quer estar quando a crise passar? Ou melhor: como você quer estar quando a crise passar?
Não sei a sua resposta, mas a minha eu encontrei:
Quero estar aqui! Não quero ter desistido! Quando ela passar quero sentir a aquela alegria própria de quem permaneceu, de quem não foi embora, não se acovardou, não olhou para trás...
Quero estar melhor! A crise tem que me fazer melhor. Já que é para nos mover que nos leve para frente, para o avanço. Eu não quero retroceder!
Quero ser mais “Eu”! Não no sentido egocêntrico e “egolátrico”, mas um eu purificado, onde minha essência, aquilo que sou de verdade, possa ser realçado e afirmado. 4o - Quero ser mais de Deus! Como foi dito antes, a crise nos tira os excessos e deixa o que realmente importa, ou seja: Ser de Deus! Porque no final tudo vai passar, só Deus permanecerá.
Oh crise, “santa crise”,
sei que sua visita é breve, que talvez não vai durar tanto tempo,
pode ser que sejas um instrumento de Deus,
uma visita disfarçada do Amado de minha alma.
Move-me, me faz temer e tremer,
para que tudo em mim seja sacudido,
e assim eu possa sair das minhas zonas de conforto,
possa desmoronar em mim
os castelos de areia que construí ao longo do tempo.
Revela-me, oh crise,
as verdades mais íntimas do meu ser,
aquilo que sou para Deus,
aquele que sou diante de Deus.
Ajuda-me a decidir-me,
a não viver mais em cima do muro, de maneira inconstante e infiel.
Ajuda-me a reconhecer o que sou: um pobre pecador,
necessitado de Deus e de sua misericórdia,
impotente diante de sua Onipotência Redentora.
Purifica-me!
Que eu passe pelo crivo, mesmo que doa,
mesmo que custe, mesmo que tudo me seja retirado,
faz o que for necessário
para que eu alcance Deus e seu amor.
Me põe por terra, me humilha
e me faz reconhecer o nada que eu sou e o tudo que é Deus!
Ajuda-me a crescer, a ir além, a progredir,
a alcançar o céu, a eternidade.
Senhor, depois desse tempo de crise,
eu quero estar contigo, quero estar em teus braços,
partilhando contigo do banquete eterno. Amém.
Frei Kephas Filho das Santas Chagas, pjc.
La Pintana – Chile,
16 de Abril de 2020.
Quero sempre está com Tigo senhor,nunca desistir,quero ser protegida com teu amor.... Eu nada sou .