“O Povo que andava nas trevas viu uma grande luz”. (Isaías 9,1)
Amados irmãos e irmãs e membros de nossa Fraternidade e amigos, quero por meio deste informativo fazer com que chegue até os vossos corações uma experiência tão forte de Deus que na missão o Senhor me fez viver, de modo especial neste tempo que antecede o Advento, um tempo que para mim o considero tão favorável para conversão e reflexão sobre a fé e a maneira como a vivemos nossa entrega na missão.
Durante este ano de 2019 acompanhamos muitas notícias, partilhas e experiências de realidades vividas de nossos consagrados no campo de missão onde estão. Nossas Irmãs na Centro América, nossos irmãos e irmãs do Chile, aqui em nossa missão da África, nossos irmãos e irmãs na missão nos Estados Unidos e em tantos outros lugares onde estamos. Podemos até imaginar que se juntarmos todas as experiências e histórias vividas por nossos missionários vamos ter um belo itinerário de 'missionariedade' e entrarmos no rol de tantos missionários que por causa do grande amor a Deus e ao próximo é capaz de romper os seus limites e fazer da sua entrega a Deus um caminho de santidade.
Penso que em qualquer missão onde formos ou onde permanecermos enfrentaremos diversos desafios, em número, gênero e grau, que jamais terá fim, consequência de um mundo que se distancia de Deus e que já não tem os princípios evangélicos como caminho para a verdadeira felicidade, com isso a força de muitos de nós na Evangelização é essencial para fazer com que os caminhos do povo se cruzem com as promessas de Deus. Gerando uma nova geração de pessoas que dão sentido a sua vida.
Por graça de Deus e seus planos de santidade para a nossa Fraternidade, hoje Ele nos faz trilhar o que no passado muitos que nos antecederam na fé fizeram: sofrer as consequências de uma Igreja perseguida, ser sinal de uma Vida Consagrada cotidiana e pequena que impacta o mundo, ser homens e mulheres de Deus gerando a diferença por onde passam levando respostas e esperança a um povo confiado, enfrentando ataques terroristas onde ao mesmo tempo que somos chamados a consolar o povo, ser presença em meio ao caos, ser consolado pelo próprio Deus por meio de uma vivência de fé e por ela se lançar. Isso somente intensifica de que nossa consagração nos faz ir além do que um dia imaginamos e fazer coisas que jamais pensávamos em fazer.
Com estes pequenos exemplos citados, quero recordar muitas experiências vividas este ano e que não estávamos só no enfrentamento destas batalhas, pois emanava uma força de um corpo chamado fraternidade dos Pobres de Jesus Cristo que rezava, intercedia, oferecia o Santo Sacrifício da missa, orações pessoais, penitências enfim uma força espiritual imensa que nos unia a cada desafio vivido gerando uma força imensurável a nós que muitas vezes estavam ocultas aos nossos olhos, mas latente aos olhos e ao coração de Deus.
Com isso compartilho uma experiência que na última semana vivi aqui na pequena Nangade na África: Tendo em vista todos os ataques que sofremos em nossas aldeias onde reduzimos de 63 comunidades para 50, pois devido a situação de ataques nosso povo perdeu tudo e foi obrigado a abandonar suas casas que foram queimadas, deixar suas pequenas plantações e se refugiar em casa de familiares e nos distritos a procura de segurança e em busca da sobrevivência de sua família. Com isso gerou um êxodo de milhares de pessoas que deixaram o que restou para buscar o recomeço, sem contar que neste meio tivemos a passagem de um ciclone que destruiu muitas coisas. Enfim diante deste cenário de desolação e que humanamente sem esperança palpável, eu em minha humanidade me questionei demais: Senhor como em meio a isso posso te encontrar e atuar? Como em meio a isto tudo o povo pode te ver e sentir? Como falar de esperança para um povo que perdeu tudo incluso a vida de muitos entes queridos? Como dizer a este povo que deve ter forças para um recomeço se o cenário é desolador e tão caótico que nem bem recomeça por conta de uma perda e já tem que recomeçar de novo? Enfim nestas horas as perguntas são muitas e diferentes escalas.
Mas todas estas perguntas fiz em meio a choros (que para mim não precisa muito, kkkk), angústias de ver tudo, sentir tudo e não ficar alheio a tais sofrimentos, e a capela era sempre o local onde tudo acontecia.
Mas, como sabemos que Deus sempre nos dá as respostas e nos surpreende. Estando em casa em um dia de trabalho arrumando a casa, um menino bate no portão e vou atendê-lo. Estava muito sujo como é a realidade de nossas crianças nas aldeias, descalço, mas com um sorriso grande no rosto. Ele me pede uma roupa, algo para comer e com isso peço para ele entrar e como de costume ele vai tomar um banho, dou uma roupa nova, algumas bolachas com suco para ele se alimentar e ele se despede.
Em seguida volto na lavanderia onde guardamos as roupas para arrumar e colocar tudo dentro do saco novamente, por minha surpresa encontro em cima do saco de maneira bem visível uma imagem do menino Jesus. Aquilo imediatamente fez meu coração disparar e fui do lado de fora onde estava o Frei Damião perguntar se era dele ou se ele tinha deixado por lá. Ele disse que não, que nem sabia que tinha esta imagem ali pois ele trouxe estas roupas e verificou tudo e não tinha visto nada.
Guardei no bolso do hábito a imagem e acabei que esqueci ela lá. No dia seguinte sentado na capela em adoração fui me mexer e senti algo no meu bolso e lembrei que não tinha tirado a imagem, claro que imediatamente tirei a imagem e coloquei em minhas mãos e como que coisa de segundos tudo ao redor me esqueci e revivi todo o dia anterior: o momento do menino que bateu no portão, o encontrar da imagem, e com isso estando na capela deixei me levar. Me emocionei muito porque sabia que isso já era a resposta de Deus para os meus questionamentos.
Foi então que ao terminar a adoração partilhei com Frei Damião tudo como aconteceu desde os questionamentos até a resposta e também com as irmãs em uma oportunidade e logo me veio as respostas: “No pequeno menino Jesus que nasce podemos ver a misericórdia, a ternura de Pai, um Deus que por amor entra na história de seu povo, que se faz pequeno, humilde e que poucos o reconhece, poucos vão ao seu encontro, mas que Ele é o caminho, Ele é a vida, Ele é a paz, Ele é a esperança e ternura de Deus, expressão máxima do cuidado de Deus com seu povo. Por isso com seu nascimento tudo muda, por que Ele vem se tornar participante de nossa natureza humana, já não estamos sós e abandonados, se o tomarmos Ele em nossas mãos, Ele também nos deixará ficar em suas mãos, jamais faltará com isso as forças para a missão e Ele mesmo dará uma inteligência missionária para saber em seu tempo o agir e o viver. Ele conhece tudo muito bem e uma vez presente jamais ausente em nada.
Com tudo isso me fez um convite: Diante de qualquer situação somente saiba e anuncie Jesus está aqui e jamais vai desamparar!
Quero poder compartilhar com vocês esta experiência riquíssima de fé e mostrar que se sofremos com muitas coisas, por meio do sofrimento também somos consolados e reabastecidos. Basta viver de fé na plena confiança de que a promessa de Deus feita no passado a cada um de nós deve ecoar a cada momento no tempo presente. E que jamais uma pergunta feita a ele fica sem resposta.
Frei Boaventura dos Pobres de Jesus Cristo, pjc.
Moçambique - África
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