PENTECOSTES 2020
Tendo entrado no cenáculo, subiram ao quarto de cima, onde costumavam permanecer. At 1,13.
Minhas caríssimas Irmãs e meus caríssimos Irmãos,
Graça e Paz!
Sempre me chamou à atenção o detalhe que fora assinalado no versículo acima. Não quero dizer, com isso, que o que eu tinha era uma espécie de curiosidade para saber como eram os detalhes desse quarto superior (comprimento, altura, disposição da mobília, etc.), mas porque havia aprendido, nos meus estudos bíblicos, que era no andar de cima que o judeu estudava a Torá e a família hospedava as visitas. Por causa disso, durante anos, me acompanhou essa terna imagem de que foi nesse quarto de cima que a Nova Lei foi infundida no coração dos presentes: Imprimirei a minha lei no seu íntimo, e gravá-la-ei no seu coração (Jr 31,33) e que o Dulcis Hospes animae - Doce Hóspede da alma (Sequência de Pentecostes) foi acolhido.
Em grego, quarto de cima é chamado de huperoon (υπερωον). Hupér que significa acima; sobre; por cima; muito e Roon que significa quarto. No inglês encontramos várias palavras tendo roon como sufixo: bedroom, dayroom, classroom, bathroom, restroom, etc.
A Igreja é o lugar que nos auxilia a continuar buscando as coisas lá do alto, que nos afeiçoa às coisas lá de cima (cf. Cl 3,1-2). Ela nasceu um andar acima da realidade conflituosa que cerceava os discípulos e que, ainda hoje, cerceiam a humanidade; um andar acima dos apegos e distrações que, muitas vezes, nos mantêm, reféns, no andar térreo.
Na maioria das vezes não conseguimos ascender, ao andar de cima, por causa das atrações e ocupações que o lugar de baixo exerce sobre nós. Não se constitui numa tarefa fácil, estar no mundo sem ser do mundo. Por ‘ser do mundo’ entende-se alguém que fez da realidade material o único estilo de vida possível.
O Materialismo é a concepção de mundo que considera o universo como sendo constituído, exclusivamente, de matéria e de processos físicos que atuam sobre ele (causa e efeito). Noutras palavras, o mundo se explica e se basta por ele mesmo e procurar compreendê-lo, de outra forma, seria puro “conto de fadas”. Esse é o materialismo, podemos dizer, na sua forma mais radical (histórico-filosófica-científica). Há, porém, um materialismo mais sutil, mas, tão perverso quanto o outro, que podemos chamar de materialismo religioso. Tal coisa é possível? Se não na teoria, na prática é possibilíssimo. Por exemplo, uma pessoa pode crer em Deus e se referir constantemente a Ele, no entanto, no seu dia a dia, vive como se Ele não existisse. Não recorre a Deus nas decisões que toma ou, tampouco, deixa de tomar algumas (diga-se de passagem, erradas) por cauda d’Ele. Uma pessoa é materialista quando seu modo de pensar baseia-se, não unicamente numa concepção de mundo sem Deus, mas, quando crendo n’Ele, vive como se Ele não existisse.
Creio na Vida Eterna. Essa é a certeza que deve mover todo aquele que se tornou cristão. Por causa dela é que nos esforçamos para orientar as nossas vidas, segundo os critérios d’Aquele de quem recebemos esse nome.
O céu é o fim último e a realização das aspirações mais profundas do homem, o estado de felicidade suprema e definitiva (CIC 1024).
Não queremos dizer, com tudo o que até aqui foi dito, que devemos considerar o mundo (a matéria) como algo mal. Ora, sabemos que o mundo foi criado por Deus e que tudo o que vem de Deus é bom (cf. Gn 1,9-31) e que por amar, tanto, o mundo Ele deu Seu único Filho para salvá-lo (cf. Jo 3, 16). O que queremos dizer é que devemos usar deste mundo como se dele não usássemos, (1Cor 7,31), isto é, usar as coisas passageiras em vista das que são eternas e não atribuir valor eterno ao que é temporário.
Isso não deve gerar em nós nenhum tipo de alienação da realidade, pelo contrário, devemos trabalhar, incansavelmente, para que toda a humanidade acolha o Reino de justiça e de paz, que começa nessa vida e que se consume na eternidade.
Quando lemos o início dos Atos vemos que os Apóstolos, obedientes a ordem de Jesus, voltaram para Jerusalém, o lugar da morte e da perseguição e, de fato, lá eles seriam acossados e martirizados. Mas, o que os movia a tão grandioso ato de coragem? O vislumbre do Céu, a certeza da outra vida, o encontro com Aquele que vencera a morte e que Vivo e Glorioso subira ao Pai para lhes preparar um lugar.
Sem a Igreja, sem a vida em comunidade não temos como alimentar, perenemente, a certeza do Céu.
Se tem algo que esse confinamento já pode nos ensinar, é do quanto faz falta estarmos em comunidade, de como é bom nos encontrarmos para celebrar, para orar e para servir.
Nesse Pentecostes, somos chamados a manter aceso o fogo da vida comunitária e da oração. Onde quer que você esteja, se sinta parte desse belo corpo que é a nossa Fraternidade e se una a ele, rezando a novena do Espirito Santo que vamos iniciar no dia 21 (quinta-feira) até o dia 29 (sexta-feira).
No dia 30, sábado, vamos fazer a nossa Vigília de Pentecostes. Se não puder participar da Missa da Vigília de Pentecostes, pessoalmente, por conta das restrições em vigor, acompanhe-a via internet.
Tenhamos um abençoado Pentecostes!
Pe. Gilson Sobreiro, pjc
18 de maio de 2020, Campo Mourão, PR
Para baixar a novena de Pentecostes CLIQUE AQUI